No último trimestre fiscal, encerrado em fevereiro, a tecnológica norte-americana viu o valor das obrigações de desempenho remanescente (RPO, na sigla inglesa) subir para um recorde de 130 mil milhões de dólares. Trata-se do valor agregado dos contratos de cloud já assinados, mas ainda não reconhecidos como receita. O salto trimestral foi de 33 mil milhões — cinco vezes mais do que os analistas esperavam, segundo dados da FactSet. Um número robusto, e ainda assim conservador: não inclui o ambicioso projeto Stargate, anunciado recentemente.
O problema está no resto. As receitas e o lucro operacional ajustado ficaram aquém das previsões de Wall Street. E a orientação para o trimestre atual — em termos de crescimento de vendas e lucros por ação — também falhou o alvo. Numa conjuntura marcada por receios de abrandamento económico, agravados por declarações recentes do ex-presidente Donald Trump sobre uma possível recessão, os investidores mostraram pouca tolerância. As ações da Oracle recuaram quase 3% na terça-feira.
Apesar da reação negativa, o consenso analítico mantém-se amplamente favorável: os analistas financeiros continuam a recomendar a comprar ações da Oracle. A empresa tem reforçado a sua posição na corrida à infraestrutura de computação para IA, ainda que continue a tropeçar nos resultados trimestrais. Nos últimos oito trimestres, falhou as metas de receita em seis.
Este padrão recorrente levanta uma dúvida estrutural: até que ponto o crescimento dos RPO é um sinal fiável de criação de valor futuro? A análise da Morgan Stanley, citada no The Wall Street Journal, é bem direta: “A Oracle precisa de fazer mais para convencer os investidores de que o crescimento das RPO se traduzirá, efetivamente, em resultados operacionais sustentáveis”, escreveu Keith Weiss.
A Oracle também está a seguir os passos dos gigantes da cloud no investimento pesado em infraestrutura para IA. Nos últimos quatro trimestres, investiu quase 15 mil milhões de dólares em capex, o dobro do valor de há um ano e equivalente a 27% da sua receita anual — muito acima da sua média histórica (menos de 12%).
Ainda assim, o esforço continua modesto em comparação com os concorrentes. Amazon, Microsoft e Google, investiram, em média, 68 mil milhões no mesmo período.
A Oracle parece estar numa encruzilhada típica de empresas em transição tecnológica: entre prometer uma nova era de crescimento e manter a disciplina financeira que o mercado exige no curto prazo. A magnitude dos contratos em carteira mostra que o mercado acredita no potencial da Oracle enquanto fornecedor de infraestrutura crítica para IA. Mas transformar esse potencial em métricas tangíveis — receitas, margens, cash flow — continua a ser o verdadeiro teste.
A dúvida não está na direção estratégica, mas na velocidade de execução. E, por enquanto, o relógio joga contra.