A transformação digital é cada vez mais predominante, a questão do consumo energético da Inteligência Artificial (IA) tornou-se um tema central no debate sobre o futuro sustentável da tecnologia. Em resposta a esta crescente preocupação, a Schneider Electric, em colaboração com o Prof. Fons Wijnhoven da Universidade de Twente, apresentou um estudo, intitulado “Artificial Intelligence and Electricity: A System Dynamics Approach”, que explora o impacto da IA no consumo de eletricidade na próxima década.
A investigação propõe um modelo de dinâmica de sistemas, uma ferramenta sofisticada que visa analisar e prever cenários possíveis para a procura de eletricidade associada ao uso de IA. De acordo com Rémi Paccou, Diretor do Sustainability Research Institute da Schneider Electric, e Fons Wijnhoven, os cenários modelados são fundamentais não só para entender as complexas interações entre a IA e o consumo de energia, mas também para orientar políticas e estratégias que possam mitigar os impactos ambientais dessa tecnologia em expansão.
O relatório não pretende ser uma previsão precisa, mas antes um exercício de reflexão sobre as múltiplas direções que o desenvolvimento da IA pode tomar e as suas implicações no consumo energético. Quatro cenários distintos foram delineados:
- Desenvolvimento Sustentável da IA: Neste cenário, a IA evolui de forma equilibrada, com um foco forte em sustentabilidade, respeitando limites ambientais e impulsionando uma economia circular.
- Limites do Crescimento: A IA é limitada em termos de expansão, com restrições regulatórias e desafios técnicos que impedem um crescimento rápido, resultando numa utilização moderada de eletricidade.
- Abundância sem Limites: Este é um cenário mais radical, no qual a IA se desenvolve de forma desenfreada, sem restrições, o que implicaria um aumento exponencial da procura de eletricidade, exacerbando os problemas ambientais.
- Crises Energéticas Causadas pela IA: Um cenário alarmante, onde o uso desenfreado da IA leva a crises energéticas, forçando os sistemas de fornecimento de eletricidade a colapsar sob a pressão do consumo elevado.
Estes cenários funcionam como ferramentas para os responsáveis políticos e líderes da indústria, oferecendo uma base para o desenvolvimento de políticas que possam mitigar os riscos e maximizar os benefícios do avanço da IA.
A Schneider Electric também apresentou um segundo estudo, “AI-Powered HVAC in Educational Buildings: A Net Digital Impact Use Case”, que analisa como a IA pode ser aplicada em sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) para melhorar a eficiência energética nos edifícios. Com os sistemas AVAC a representar entre 35% a 65% do consumo energético de muitos edifícios, a pesquisa revelou como a IA pode gerar uma redução significativa nas emissões de carbono.
Entre 2019 e 2023, o estudo, que envolveu 87 propriedades do setor educacional em Estocolmo, observou uma redução de 65 toneladas de CO2 por ano, o que equivale a cerca de 60 vezes a pegada de carbono do próprio sistema de IA instalado. Este estudo demonstra o potencial da IA para transformar não só a indústria energética, mas também outros setores que dependem fortemente de soluções energéticas.
A comparação entre Estocolmo e Boston, que integra um estudo adicional, sugere que, em locais com necessidades energéticas mais exigentes, como Boston, a implementação da solução poderia resultar em reduções de emissões de carbono sete vezes superiores.
O desafio da Transição Energética
Vincent Petit, Vice-presidente sénior da Schneider Electric para a Transição Energética, destacou que “a publicação dos nossos relatórios surge num momento crucial, em que estamos a compreender cada vez mais o poder transformador da IA no setor da energia”. As conclusões dos estudos são um apelo à ação para os governos, empresas e investidores. Ao mesmo tempo que a IA oferece imensas oportunidades de inovação e eficiência, é imperativo que a sua evolução se faça de forma responsável e sustentável.
Num mundo onde a inovação tecnológica e a sustentabilidade devem caminhar lado a lado, as recomendações dos relatórios da Schneider Electric são claras: é necessário criar um equilíbrio entre o progresso tecnológico e as necessidades ambientais. Ao abraçar a IA de forma responsável, podemos não apenas moldar um futuro mais eficiente, mas também garantir que os sistemas de energia do futuro sejam sustentáveis, resilientes e capazes de enfrentar os desafios impostos pelas tecnologias emergentes.